Sentimentos
A Grande Esfinge do Egito
Por: Fernando Pessoa
A Grande Esfinge do Egito sonha por este papel dentro...
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo — perturbo-m e de ver o bico da m inha pena
Ser o perfil do rei Quéops ...
De repente paro...
Escureceu tudo... Caio por um abism o feito de tem po...
Estou soterrado sob as pirâm ides a es crever versos à luz clara deste
candeeiro
E todo o Egito m e esmaga de alto através dos traços que faço com a
pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la um a mão enorm e,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de m im,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-m e com olhos m uito abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E um a alegria de barcos em bandeirados erra
Num a diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim! ...
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Poema enviado em 31/05/2025