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Sentimentos

De quem é o olhar

Por: Fernando Pessoa

De quem é o olhar
Que espreita por m eus olhos ?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo
Enquanto estou pensando ?
Por que cam inhos seguem ,
Não os m eus tristes passos,
Mas a realidade
De eu ter passos comigo ?
Às vezes, na penumbra
Do m eu quarto, quando eu
Por m im próprio m esmo
Em alma mal existo,
Tom a um outro sentido
Em mim o Universo —
É um a nódoa esbatida
De eu ser consciente sobre
Minha idéia das coisas.
Se acenderem as velas
E não houver apenas
A vaga luz de fora —
Não sei que candeeiro
Aceso onde na rua —
Terei foscos desejos
De nunca haver m ais nada
No Universo e na Vida
De que o obscuro m omento
Que é m inha vida agora!
Um momento afluente
Dum rio sempre a ir
Esquecer-se de ser,
Espaço misterioso
Entre espaços desertos
Cujo sentido é nulo
E sem ser nada a nada.
E assim a hora passa
Metafisicamente.

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Poema enviado em 31/05/2025