TORTURA
            Por: Florbela Espanca
            
                Tirar dentro do peito a Emoção,  
A lúcida Verdade, o Sentimento!  
- E ser, depois de vir do coração,  
Um punhado de cinza esparso ao vento!...  
 
Sonhar um verso de alto pensamento,  
E puro como um ritmo de oração!  
- E ser, depois de vir do coração,  
O pó, o nada, o sonho dum momento!...  
 
São assim ocos, rudes, os meus versos:  
Rimas perdidas, vendavais dispersos,  
Com que eu iludo os outros, com que minto!  
 
Quem me dera encontrar o verso puro,  
O verso altivo e fo rte, estranho e duro,  
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!            
            
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                Poema enviado em 23/05/2025