A VOZ DA TÍLIA
            Por: Florbela Espanca
            
                Diz-me a tília a cantar: "Eu sou sincera,  
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça,  
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,  
Este ar escultural de bayadera...  
E de manhã o sol é uma cratera,  
Uma serpente de oiro que me enlaça...  
Trago nas mãos as mãos da Primavera...  
E é para mim que em noites de desgraça  
Toca o vento Mozart, triste e solene,  
E à minha alma vibrant e, posta a nu,  
Diz a chuva sonetos de Verlaine..."  
E, ao ver -me triste, a tília murmurou:  
"Já fui um dia poeta como tu...  
Ainda hás de ser tília como eu sou..."            
            
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                Poema enviado em 23/05/2025