BLASFÊMIA
            Por: Florbela Espanca
            
                Cala-te... Escuta... Não me digas nada...  
Cai a noite nos longes donde vim...  
Toda eu sou alma e amor! Sou um jardim!  
Um pátio alucinante de Granada!  
Dos meus cílios, a sombra enluarada,  
Quando os teus olhos descem sobre mim,  
Traça trémulas hastes de jasmim  
Na palidez da face extasiada!  
Sou no teu rosto a luz que o alumia...  
Sou a expressão das tuas mãos de raça...  
E os beijos que me dás já foram meus...  
Em ti sou glória, altura e poesia!  
E vejo -me (Oh, milagre cheio de graça!)  
Dentro de ti, em ti, igual a Deus!...            
            
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                Poema enviado em 23/05/2025