DIVINO INSTANTE
            Por: Florbela Espanca
            
                Ser uma pobre morta inerte e fria,  
Hierátic a, deitada sob a terra,  
Sem saber se no mundo há paz ou guerra,  
Sem ver nascer, sem ver morrer o dia,  
Luz apagada ao alto e que alumia,  
Boca fechada à fala que não erra,  
Urna de bronze que a Verdade encerra,  
Ah! ser Eu essa morta inerte e fria!  
Ah, fixar o  efémero! Esse instante  
Em que o teu beijo sôfrego de amante  
Queima o meu corpo frágil de âmbar loiro;  
Ah, fixar o momento em que, dolente,  
Tuas pálpebras descem, lentamente,  
Sobre a vertigem dos teus olhos de oiro!            
            
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                Poema enviado em 23/05/2025