DOCE MILAGRE
            Por: Florbela Espanca
            
                O dia chora. Agonizo  
Com ele meu doce amor.  
Nem a sombra dum sorriso,  
Na Natureza diviso,  
A dar -lhe vida e frescor!  
A triste bruma, pesada,  
Parece, detrás da serra  
Fina renda, esfarrapada,  
De Malines, desdobrada  
Em mil voltas pela terra!  
(O dia parece um réu.  
Bate a chuva nas vidraças.)  
As avezitas, coitadas,  
Esqueceram hoje o cantar.  
As flores pendem, fanadas  
Nas finas hastes, cansadas  
De tanto e tanto chorar...  
O dia parece um réu.  
Bate a chuva nas vidraças.  
É tudo um imenso véu.  
Nem a terra nem o céu  
Se distingue. Mas tu passas...  
E o sol doirado aparece.            
            
            Acesse a página do poeta
            
                 14            
            
            
                Poema enviado em 23/05/2025