DOCE MILAGRE
Por: Florbela Espanca
O dia chora. Agonizo
Com ele meu doce amor.
Nem a sombra dum sorriso,
Na Natureza diviso,
A dar -lhe vida e frescor!
A triste bruma, pesada,
Parece, detrás da serra
Fina renda, esfarrapada,
De Malines, desdobrada
Em mil voltas pela terra!
(O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.)
As avezitas, coitadas,
Esqueceram hoje o cantar.
As flores pendem, fanadas
Nas finas hastes, cansadas
De tanto e tanto chorar...
O dia parece um réu.
Bate a chuva nas vidraças.
É tudo um imenso véu.
Nem a terra nem o céu
Se distingue. Mas tu passas...
E o sol doirado aparece.
Acesse a página do poeta
3
Poema enviado em 23/05/2025