ESCUTA...
Por: Florbela Espanca
À Beatriz Carvalho
Escuta, amor, escuta a voz que ao teu ouvido
Te canta uma canção na rua em que morei,
Essa soturna voz há de contar -te, amigo
Por essa rua minha os sonhos que sonhei!
Fala de amor a voz em tom enternecido,
Escuta -a com bondade. O muito que te amei
Anda pairando aí em sonho comovido
A envolver -te em oiro!... Assim se envolve um rei!
Num nimbo de saudade e doce como a asa
Recorta -se no céu a minha humilde casa
Onde ficou minha alma assim como penada
A arrastar grilhões como um fantasma triste.
É dela a voz que fala, é dela a voz que existe
Na rua em que morei... Anda crucificada!
Acesse a página do poeta
3
Poema enviado em 23/05/2025